2015-10-19

[cidade dentro]

[cidade dentro]

debruço-me da varanda de mim
 és uma angústia antiga cidade
donde todas as linhas partem
desassossegadamente até ti.

clandestinas no poema as vias
são ruas diretas até essa estação.

fora do lugar arrumas-me aí
na esquina quente da história
onde outrora de pedra as bocas
foram montanhas nessas águas.

ouve a última canção, amiga,
sorve o ar da janela a funda
beleza dos álamos o encanto
dos dedos caminhando fundo
a tensão branca dos corpos
a real cartografia no terraço
onde ser rio é ir ao fundo…

ouve esta música o sol na mesa.

2015-10-16

[tempo inverno]

[tempo inverno]

contra a janela o vento o inverno cai
dizendo que as estações são lugares
e as pontas dos dedos comboios indo
corpo dentro por veredas sombrias.
apeado no coração do joelho chegado
um rubor de tédio planta-se no chão
como um fruto em quintal balança
estende-se rumorosamente na pele
inversa. ainda há espaço em mim?
como teia o tempo tece lento e afunda.

2015-10-06

[moradas]

[moradas]

são pequenos passos aqueles que dás
breves incisões no tempo e no amor
talvez essas moradas devenham luz
talvez o caminho na raiz dos pulsos.

2015-10-02

É A HORA DE PENSAR!

É A HORA DE PENSAR!

Olhando para o País, não se vê, em terra de milagres, «milagre» algum. Aliás, é tudo menos: menos gente, menos competitividade, menos saúde, menos educação, menos salário, menos cultura, menos alegria, menos amanhã… Aqui chegados, talvez as palavras de Orlando Raimundo ajudem a esclarecer uma miragem que nos querem impingir. Cito: «O “milagre” salazarista foi resultado de um enorme aumento de impostos, cortes nas despesas de saúde e educação e redução dos salários da função pública.»
Este eco lembra o nosso tempo, a nossa hora. Espantar-me-á, talvez, é o facto de alguma juventude, da infelizmente pouca que por cá foi ficando depois de execrando banimento, continue a seguir quem tanto mal lhe tem feito. É a hora de ser consequente: quanto dinheiro a mais ou a menos no bolso? quanta educação e quanta saúde? que luminosa perspetiva de futuro? Não, não houve milagre que não seja miragem.

Na hora que vai chegando, haja memória, haja vontade de perceber, haja vontade de cortar com aqueles que só se lembram de nós em tempo de eleições, como se a vida pudesse assim ser jogada entre foguetes e coisa nenhuma! Decide, decide por ti…