2014-07-08

[FARPINHAS - DEZASSETE]

[FARPINHAS - DEZASSETE]

Os abusadores andam por aí como a degeneração da pronúncia tradicional. João de Araújo Correia, em crónica impagável, apoda-os de calcinhas. E bem. Como símbolo aplicável à vida, são calcinhas os onzeneiros, os falsários, os moedeiros batoteiros, muitos dos ditos especialistas, não poucos políticos, associações e associados, gente de muitas cores e outros que ficaram esquecidos. Para se ser calcinhas é muito fácil – basta não se passar na prova da verdade.
Por exemplo, quando um político diz uma coisa hoje e outra amanhã entra logo nesta classe nacional. Haverá muitos, haverá poucos? Parece que são muitos. Não me distraindo com o primeiro-ministro atual, que é já campeão de tergiversação, lembrando ainda que esta disputa em certo partido da oposição há de ser coisa de calcinhas (não tem Seguro sido muito inseguro na verdade e não era a verdade de Costa, recém empossado ministro, em entrevista madrugadora, ser a favor de privatizações na saúde e na educação?), basta dizer que só há que ser verdadeiro.
A verdade existe. Clinton foi calcinhas e Mandela nunca o foi. Os calcinhas são razoavelmente incultos. Nunca leram Shakespeare, por exemplo. Mas dizem que sim. Anda por aí muita gente assim, fingida, interesseira, calcinhas de todo. Lapuzes, movimentam-se embrulhados em unguentos e golpes baixos. Procuram até fingir um saber, uma especialização. Perdem algum tempo a fixar frases célebres. Às vezes, dizem até gostar de poetas. Fixam o rasto dos ilustres e devassam-lhes a vida. O calcinhas conhece as pessoas há menos de um mês e é já seu amigo figadal. O interesse assim comanda.

Não se ser calcinhas é ouvir o sangue e dizer a verdade. Acredito até que muitos mais não sejam calcinhas e estejam fartos deles. Cuidado, eles andam por aí.

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