2013-04-24

[livro]


como um corpo o livro morre
enfermiço porque o desprezas
copioso já que o não sorves.

letra  a letra come-o cura-o.

lentamente bebe-o lento
e esquece a faca que te mata.

2013-04-23

[perdição]


nada perde o já perdido
como ilusão desmerecida
afundando em velha clave.

aí se salva a morte o grito
o salto felino na sorte o dia
súbito rompente como mito.

esta a casa a rude casca o sol
espelhando o mel a seda a pele
um barco em ti sobre o mar.

eis o sangue a ferida delida
a memória vazia nos dedos
aí todo o silêncio mordente.

azul hiante azuliante o chão
opacas as horas fendentes
esta faca o marfim os dentes.

na pedra fria caído arde o corpo
nu nas sombras nos muros na cal
onde explodem todos os rios.

tenso em arco as frechadas
nuvens transparentes o éter
sobre os cães do tempo a morte.

gestante uma veia avulta – a morte. 

2013-04-22

COMO BECKETT, NUNCA PIOR ASSIM



COMO BECKETT, NUNCA PIOR ASSIM

São comentos de choque e pavor perante a insensatez de um governo autocrático e unilateral que escolheu estar contra os portugueses e servir a troika. Lembrar, por exemplo, a forma divertida como jornalistas irlandeses apodaram Gaspar de ministro contra o seu povo é tão brutal quanto verdadeiro. Nunca pior assim.
Cortando cegamente, este governo interrompe, exceciona, bloqueia, impede, pioriza, não governa. Não espanta mesmo que Pacheco Pereira diga que “esta gente é perigosa”, muito perigosa até, optando por ilegalidades coonestadas em acordos sórdidos com o FMI. Tal revanchismo contra os portugueses, defende o biógrafo de Cunhal, justificaria a dissolução da Assembleia da República.
A conclusão é óbvia. Pacheco Pereira acha, e bem, que não temos Presidente da República. Mas alguém duvida?

2013-04-21

"As luzes de Leonor" de Maria Teresa Horta


"Inconformada, Leonor teima em descobrir uma razão plausível para o misterioso sumiço da sua biblioteca. E  o vazio nela criado por aquela falta é tamanho e tão cruel que atingida pelo cobarde golpe, baqueia, sente perder os sentidos: pernas moles e lentamente vergadas, corpo sem peso já resvalando"... [p. 256]