2012-10-17

MONÓLOGO DE PASSOS COELHO VENDO CHOVER EM PORTUGAL



MONÓLOGO DE PASSOS COELHO VENDO CHOVER EM PORTUGAL

 

Gabriel García Márquez haverá de ser lembrado pelas melhores razões. Possuidor de uma oficina efabuladora muito bem artilhada, as suas estórias prendem-se à pele e ficam connosco. Lembro-me, por exemplo, da poderosa narrativa breve “Monólogo de Isabel vendo chover em Macondo” (1955), de que o título supra é clara deriva.

A desgovernação de Pedro Passos Coelho e todas as pessoas coniventes com o impossível afogamento do país haverão de ser lembradas pelas piores razões. Esta é uma outra história que se prende à pele e que desejamos esquecer. Quando esta gente já nada for, os manuais atirarão o seu legado para uma obscura nota de rodapé com a admonição de “nítido nulo”.

Como em García Márquez, há uma chuva que não cessa. Há mesmo um “barro líquido” que corre pelas ruas, arrastando “objetos domésticos, coisas e mais coisas, destroços de uma remota catástrofe, escombros e animais mortos”. Instalados na cegueira, os desgovernantes fingem ver o caminho. Não conseguem sequer vislumbrar o lodo em que enterram o país.

Ver é preciso, repulsar estes coveiros do abismo é uma necessidade.

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