2012-09-08

Sem mar



SEM MAR

Destruída grande parte das atividades marítimas, eis que as frotas pesqueiras, por exemplo, são uma amarga sombra do tempo. Bem advogam hoje os faustores da desgraça que nos voltemos para o mar e o exploremos. Estas palavras, vindas de quem vêm, enojam – nada resplendece sobre as cinzas. A não ser que nos queiram distrair, enganar mais, obrigar a um contemplativo estar de costas para mais sermos enganados, violentados na dor da contemplação. Este nítido nulo assusta, esta gentalha umbiguista existe, o nosso povo sofre sem lugar ao sonho.
O mar aí está um deslugar. Vamo-nos distraindo com a linha do horizonte. Sem distração, meticulosamente, este desgoverno mata-nos a vida, destruindo a vulgar esperança. Como no romance* de Vergílio Ferreira, apetece perguntar: “quando me executarão?”.
*Nítido nulo (1971)

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