2012-06-26

queimam os dias

arde o corpo o dia arde
descendente o sangue é
uma têmpora aberta mar
ao fundo de espuma e luz
na língua o lume estremece
corre dentro das veias tece
estes dias defronte queimam.

2012-06-22

visão

no sítio eis a árvore
duas pernas velozes
agónicas só as casas
de cima pra baixo pés
não mais que dois não
a noite em mim dança
a noite pra dizer a dor
a noite crânio a noite
abrupto álcool a noite.

2012-06-19

na distância

nela me abismo é a tarde e uma árvore
sentada na distância onde um cão surge
para eruptivo dizer este jorro de sombras
toda a transparência do dia a folhagem
explodindo na pele como o calor em mim.

2012-06-07

ardência

uma atrás da outra as estações
como sangue empurrando a vida
todo o fanal é um incêndio na pele
uma pedra rude dessorando tudo
um súbito terraço dentro da mão.

uma sem outra as estações devêm
com seus túneis e apeadeiros longe
e toda a gare é pórtico dos mortos
gritos vivos na brasserie côncava
que estalam nas folhas presos ao fogo.

depós uma a outra vem imóvel arde
no chão que com ela abraço entranho
o movimento dos flancos submersa
a treva balouça desaparece em sonho
porque dois corpos ardem frondosamente.

2012-06-06

de longe

vêm de longe as árvores
atravessaram os séculos
enormes blocos de desejo
que afundam nas palavras
como figuras maiores aí.

no espanto da noite que vem
apodrecem as folhas morrem
as frondosas copas as trevas
antecedem a névoa dispersam
os mortos na mão redivivos...

não tarda a flauta a primavera nos dedos.