2004-03-26

hoje lembro o passado. verão de 1998: o nº 0 de "Ave-Azul", ainda jornal. o editorial, programa de uns tantos, dizia:

"Este jornal, eco de um século"

"De rumorosas águas e baixios sombrios arranca agora esta ave. Elemento-água, como a própria vida, incorpora o éter dos voos por fazer. De si sopra uma voz antiga, de um Carlos de Lemos e de uma Beatriz Pinheiro, patronos desta velha forja, esquecida, obscuro domínio de uns quantos, brisa emocionada das flautas dos pastores sicilianos.

Ave, cessa o teu sono secular. Seremos a viagem que quiseres. Este é um espaço teu, animal exausto, redivivo, gume feérico no restolhar da sílaba, silêncio claro dos poetas de sempre.

Azul te seja o horizonte, ouve-nos, "que o dia te seja limpo", que do teu silêncio se construam as páginas de todas as artes, que de ti brote a dança do encantamento.

Ave-Azul, sopramos-te, agora..."

Eis o sumário do publicado:

António Manuel Ferreira, "Duas personagens de <>: Vénus e Baco" (ensaio).

Aiam Otsuaf, "Machina Mundi" (ensaio).

Anabela Ferreira Borges, "Beijos de amor" (trad. do poema "Vivamus, mea Lesbia, atque amemus" de Catulo).

Teresa Meruje, "D. Miguel da Silva" (divulgação).

Olga Albuquerque, "Os Nossos Sinos" (poesia).

Afonso Labatt, "O poeta irónico", "Nítido Inverno" e "Passado sem futuro" (poesia).

António Gil, "O sol saltou sobre a cidade"*, "Caminhando só sobre a minha última", "Ainda é possível reconstruir", "Reflectindo cheguei a este ponto" e "Uma manada de potros selvagens se alvoroça".

* O sol saltou sobre a cidade
e afogou-se no mar.

Ao contrário dos outros cegos
ainda vejo o mundo
como se o pudesse tactear.

José Carlos Seabra Pereira, "Carlos de Lemos: a obra poética e a acção literária" (ensaio).

António Fonseca Caloba, "Papel pensativo", "Vida de nadas", "Mãos despidas", "Palavras floridas" e "Soneto incompleto" (poesia).

Paulo Neto, "Mário Cesariny de Vasconcelos" (ensaio).

Martim de Gouveia e Sousa, "António de Albuquerque: o nobre revolucionário arrependido" (ensaio).

António Fonseca Caloba, "Pedinte..." (conto).


Acaba a publicação com um dito de Frei Johan Alvarez, assim:

"O que vos parecer digno
de reprensom ou de coregimento
seia posto a minha inorançia e sinpreza e non
a outra maleçioso engano."

Tal a condição humana.

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